Um pouco de a ilha misteriosa de julio verne
Capítul o 1
— Su bim os?
— Não, pelo con t rário! Est am os a descer!
— Pior do qu e i sso, sen h or Cy ru s! Est am os a cai r!
— Por Deu s! L an cem last ro!
— O úl t im o saco f oi despejado!
— O balão est á a su bi r?
— Não!
— Ou ço com o qu e o m aru lh ar das vag as!
— O m ar est á por baix o da barqu in h a!
— Não deve est ar a qu in h en t os pés de n ós!
En t ão u m a voz poderosa rasg ou o ar e ou vi ram -se est as palavras:
— Para f ora t u do o qu e pesa! ... t u do! E qu e a g raça de Deu s n os acom pan h e!
Foram est as as palavras qu e se ou vi ram , por cim a desse vast o desert o de ág u a do
Pací f ico, cerca das qu at ro h oras da t arde, n o dia 23 de m arço de 1865.
Cert am en t e n in g u ém esqu eceu o t errível g olpe de ven t o n ordest e qu e se desen cadeou n o
m eio do equ in ócio desse an o, e du ran t e o qu al o t erm óm et ro baix ou para set ecen t os e dez
m i l ím et ros. Foi u m f u racão qu e du rou sem in t erm i t ên cia desde o dia 18 at é ao dia 26 de
m arço. As devast ações qu e produ z iu f oram im en sas n a Am érica, n a Eu ropa, n a Ásia, n u m a
z on a de m i l e oi t ocen t as m i lh as, qu e se desen h ava obl iqu am en t e n o equ ador , desde o paralelo
t rig ésim o qu in t o n ort e at é ao paralelo qu adrag ésim o su l ! Cidades dest ru ídas, f lorest as
arran cadas, m arg en s devast adas por m on t an h as de ág u a qu e se precipi t avam com o m acaréu s,
n avios at i rados para a cost a, qu e as est at í st icas f ei t as pelo Gabin et e V eri t as orçaram por
cen t en as, t erri t órios in t ei ros n ivelados por t rom bas de ág u a qu e esm ag avam t u do à su a
passag em , vários m i lh ares de pessoas esm ag adas por alu im en t os de t erras ou en g ol idas pelo
m ar: f oram est es os t est em u n h os do f u ror , das dest ru ições deix adas por esse f orm idável
f u racão. U l t rapassou em desolação os qu e devast aram Havan a e Gu adalu pe, u m a 25 de
ou t u bro de 1810, o ou t ro a 26 de ju lh o de 1825.
Ora, n o preci so m om en t o em qu e t an t as cat ást rof es su cediam n a t erra e n o m ar , u m dram a
n ão m en os t errível desen rolava-se n os ares ag i t ados.
Com ef ei t o, u m balão, levado com o u m a bola n o cim o de u m a t rom ba, e apan h ado n o
m ovim en t o g i rat ório da colu n a de ar , percorria o espaço com u m a velocidade de n oven t a
m i lh as
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por h ora, g i ran do sobre si m esm o, com o se t ivesse sido apan h ado por qu alqu er
t u rbi lh ão aéreo.
Por baix o do apên dice in f erior do balão osci lava u m a barqu in h a qu e con t in h a cin co
passag ei ros, m al vi sívei s n o m eio desses espessos vapores, m i st u rados com ág u a pu lveriz ada,
qu e se arrast avam à su perf ície do ocean o.
Don de vin h a aqu ele aeróst at o, verdadei ro brin qu edo da t em ível t em pest ade? De qu e pon t o
do Mu n do t in h a ele part ido? Não t in h a eviden t em en t e podido part i r du ran t e a t em pest ade. Ora,
o f u racão du rava já h á cin co dias e os seu s prim ei ros sin t om as t in h am -se m an i f est ado a 18.
Podia-se port an t o pen sar qu e o balão vin h a de m u i t o lon g e, poi s n ão devia t er percorrido
m en os de du as m i l m i lh as em vin t e e qu at ro h oras.
Em t odo o caso, os passag ei ros n ão t in h am podido t er à su a di sposição n en h u m m eio de
calcu lar o cam in h o percorrido desde a su a part ida, poi s f al t ava-lh es qu alqu er pon t o de
ref erên cia. Devia m esm o dar-se o f act o cu rioso de qu e, arrast ados n o m eio das violên cias da
t em pest ade eles n ão as sen t i ssem . Deslocavam -se, rolavam sobre si m esm os sem sen t i rem
essa rot ação, n em a su a deslocação em sen t ido h oriz on t al . Os seu s olh os n ão podiam
t respassar o espesso n evoei ro qu e se am on t oava sob a barqu in h a. Em redor deles t u do era
bru m a. A opacidade das n u ven s era t al qu e n em saberiam diz er se era dia ou n oi t e. Nen h u m
ref lex o de lu z , n en h u m ru ído de t erras h abi t adas, n en h u m bram i r do ocean o con seg u ia ch eg ar
at é eles n o m eio daqu ela im en sidão obscu ra, en qu an t o eles se m an t iveram a g ran des al t i t u des.
Só a descida rápida lh es t in h a dado a n oção dos perig os qu e corriam ao de cim a das on das.
En t ret an t o, o balão, al iviado dos objet os pesados, vol t ara a su bi r para as cam adas
su periores da atm osf era, para u m a al t u ra de qu at ro m i l e qu in h en t os pés. Os passag ei ros,
depoi s de t erem vi st o qu e se en con t ravam sobre o m ar , e ach an do os perig os m en os t em ívei s
lá em cim a do qu e em baix o, n ão t in h am h esi t ado em lan çar pela borda f ora m esm o os objet os
m ai s út ei s, e procu ravam n ão perder m ai s n ada do f lu ido, dessa alm a do seu aparelh o, qu e os
m an t in h a por cim a do abi sm o.
A n oi t e passou -se n o m eio de in qu iet ações qu e t eriam sido m ort ai s para alm as m en os
en érg icas. Depoi s o dia vol t ou a aparecer e com ele o f u racão pareceu m ost rar t en dên cia para
se m oderar . Desde o in ício desse dia de 24 de m arço, h ou ve alg u n s sin t om as de
apaz ig u am en t o. De m adru g ada, as n u ven s, m ai s leves, t in h am su bido para as al t u ras do céu .
Em pou cas h oras a t rom ba m arí t im a qu ebrou -se e o ven t o passou do est ado de f u racão para o
de «m u i t o f resco», qu er diz er , qu e a velocidade de t ran slação das cam adas atm osf éricas
dim in u iu para m et ade. Era ain da aqu i lo a qu e os m arin h ei ros ch am am u m a «bri sa de t rês
riz es», m as a m elh oria da pert u rbação atm osf érica n ão deix ou de ser con siderável .
Por vol t a das on z e h oras, as cam adas in f eriores da atm osf era est avam sen sivelm en t e m ai s
l im pas. A atm osf era t in h a essa l im pidez h úm ida qu e se vê, qu e se sen t e at é, após a passag em
de g ran des m et eoros. Não se af ig u rava qu e o f u racão t ivesse ido para m ai s lon g e, para
ociden t e. Parecia m ort o. T alvez se t ivesse esg ot ado em n u ven s carreg adas de elet ricidade
após a ru t u ra da t rom ba, com o su cede m u i t as vez es aos t u f ões n o ocean o Ín dico.
Con t u do, por vol t a dessa h ora, pu deram observar de n ovo qu e o balão baix ava len t am en t e,
por u m m ovim en t o con t ín u o n as cam adas in f eriores do ar . Parecia m esm o qu e se ia esvaz ian do
a pou co e pou co e se di st en dia, passan do da f orm a esf érica para a f orm a ovoide.
Por vol t a do m eio-dia o aeróst at o só plan ava a u m a al t u ra de doi s m i l pés acim a do m ar .
T in h a u m a capacidade de cin qu en t a m i l pés cúbicos
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, e, g raças a i sso, pu dera m an t er-se
du ran t e m u i t o t em po n o ar , qu er por t er at in g ido g ran des al t i t u des, qu er por se t er deslocado
seg u n do u m a di reção h oriz on t al .
Nesse m om en t o os passag ei ros lan çaram pela borda f ora os úl t im os objet os pesados
ex i st en t es ain da n a barqu in h a, os pou cos víveres qu e t in h am con servado, t u do, at é os m ai s
pequ en os u t en sí l ios qu e t in h am n os bol sos, e u m deles, t en do-se içado para o an el on de se
reu n iam as cordas da rede, procu rou l ig ar sol idam en t e o apên dice in f erior do aeróst at o.
Era eviden t e qu e os passag ei ros n ão podiam m an t er m ai s o balão n as z on as elevadas e qu e
o g ás lh es f al t ava!
Est avam perdidos!
Com ef ei t o, n ão era u m con t in en t e, n em sequ er u m a i lh a qu e se est en dia por baix o deles.
No h oriz on t e n ão se vi slu m brava o m ai s pequ en o pon t o on de pu dessem pou sar .
Era o m ar im en so, cu jas on das se erg u iam ain da com in com parável violên cia! Era o
ocean o sem l im i t es vi sívei s, m esm o para eles, qu e o dom in avam de cim a e cu jos olh ares se
est en diam sobre u m raio de qu aren t a m i lh as! Era essa plan ície l íqu ida, f u st ig ada sem m ercê
pelo f u racão, qu e lh es devia parecer u m a cavalg ada de vag as desen cadeadas, sobre as qu ai s
t ivessem dei t ado u m a vast a rede de cri st as bran cas! Nem u m roch edo à vi st a, n em u m n avio!
Era preci so port an t o, a t odo o cu st o, det er o m ovim en t o de descida, para im pedi r qu e o
aeróst at o viesse a ser en g ol ido pelas on das. E era eviden t em en t e para evi t ar i sso qu e os
viajan t es t rabalh avam . Mas apesar dos seu s esf orços o balão con t in u ava a baix ar ao m esm o
t em po qu e se deslocava com u m a velocidade ex t rem a, seg u n do a di reção do ven t o, i st o é, do
n ordest e para su doest e.
Si t u ação t errível a daqu eles in f el iz es! Já n ão eram eviden t em en t e sen h ores do aeróst at o.
As su as t en t at ivas n ão con seg u iam t er êx i t o. O in vólu cro do balão esvaz iava-se a pou co e
pou co do f lu ido sem qu e f osse possível ret ê-lo. A descida acelerava-se vi sivelm en t e, e, à u m a
h ora da t arde, a barqu in h a só est ava su spen sa a pou co m ai s de sei scen t os pés acim a do
ocean o.
É qu e, com ef ei t o, era im possível im pedi r a f u g a do g ás, qu e se escapava l ivrem en t e por
u m rasg ão do aparelh o.
Al ivian do a barqu in h a de t odos os objet os qu e con t in h a, os passag ei ros log raram
prolon g ar , du ran t e alg u m as h oras, a su a su spen são n o ar . Mas a in evi t ável cat ást rof e só podia
ser ret ardada, e, se n en h u m a t erra su rg i sse an t es da n oi t e, passag ei ros, barqu in h a e balão
t eriam def in i t ivam en t e desaparecido n as on das.
A ún ica m an obra qu e h avia ain da a f az er f oi f ei t a n esse m om en t o. Os passag ei ros do
aeróst at o eram eviden t em en t e pessoas en érg icas, e qu e sabiam olh ar a m ort e de f ren t e. Não se
lh es ou viu u m ún ico m u rm úrio sai r dos lábios. Est avam decididos a lu t ar at é ao úl t im o
m om en t o, a f az erem t u do para ret ardar a qu eda. A barqu in h a era apen as u m a caix a de vim e,
im própria para f lu t u ar , e n ão h avia possibi l idade alg u m a de a m an t er à su perf ície do m ar se
ela caí sse.
Às du as h oras, o aeróst at o est ava apen as a qu at rocen t os pés acim a das on das.
Nesse m om en t o u m a voz m ascu l in a — a voz de u m h om em cu jo coração era in acessível ao
m edo — f ez -se ou vi r . A essa voz respon deram voz es n ão m en os en érg icas.
— Já f oi t u do lan çado f ora?
— Não, h á ain da dez m i l f ran cos de ou ro!
U m pesado saco f oi cai r n o m ar .
— O balão est á a su bi r?
— U m pou co, m as n ão t ardará a descer!
— Qu e se poderá ain da dei t ar f ora?
— Nada!
— Sim . A barqu in h a!
— Ag arrem o-n os à rede e lan cem os a barqu in h a ao m ar .
Era, com ef ei t o, o ún ico e úl t im o m eio de al iviar o aeróst at o. As cordas qu e l ig avam a
barqu in h a ao cí rcu lo f oram cort adas, e o aeróst at o, após a qu eda, su biu doi s m i l pés.
Os cin co passag ei ros t in h am -se içado para a rede, acim a do cí rcu lo, e ag arravam -se às
m alh as da m esm a, olh an do o abi sm o.
Sabe-se de qu e sen sibi l idade est át ica são dot ados os aeróst at os. Bast a lan çar o objet o
m ai s leve f ora para provocar u m a deslocação n o sen t ido vert ical . O aparelh o, f lu t u an do n o ar ,
com port ou -se com o u m a balan ça de u m rig or m at em át ico. Com preen de-se port an t o qu e se f or
l ibert o de u m peso im port an t e, a su a deslocação deverá ser im port an t e e bru sca. Foi o qu e
su cedeu n essa ocasião.
No en t an t o, depoi s de se t er equ i l ibrado u m in st an t e n as z on as su periores da atm osf era, o
aeróst at o com eçou a descer de n ovo. O g ás escapava-se pelo rasg ão, e era im possível reparálo.
Os passag ei ros já t in h am f ei t o t u do o qu e era possível f az er . Daí em dian t e n en h u m m eio
h u m an o os podia salvar . Só podiam con t ar com a aju da de Deu s.
Às qu at ro h oras, o balão en con t rava-se apen as a qu in h en t os pés da su perf ície das ág u as.
U m lat ido son oro f ez -se ou vi r . U m cão acom pan h ava os passag ei ros e m an t in h a-se ju n t o
do don o, t am bém ag arrado à rede.
— T op viu qu alqu er coi sa! — ex clam ou u m dos passag ei ros.
Depoi s, log o a seg u i r , u m a voz f ort e f ez -se ou vi r:
— T erra! T erra!
O balão, qu e o ven t o n ão cessava de arrast ar para su doest e, t in h a, desde a m adru g ada,
percorrido u m a di st ân cia con siderável , qu e se ci f rava em cen t en as de m i lh as, e u m a t erra
bast an t e al t a acabava, com ef ei t o, de su rg i r n essa di reção.
Con t u do, essa t erra en con t rava-se ain da a u m as t rin t a m i lh as de di st ân cia. Era preci so pelo
m en os u m a boa h ora para lá ch eg ar , e m esm o assim com a con dição de n ão h aver qu alqu er
desvio! U m a h ora! O balão n ão f icaria an t es di sso esvaz iado de t odo o seu f lu ido?
Era essa a t errível qu est ão! Os passag ei ros viam di st in t am en t e esse pon t o sól ido, qu e era
preci so alcan çar a t odo o cu st o. I g n oravam o qu e era, i lh a ou con t in en t e, poi s n ão sabiam
sequ er para qu e part e do Mu n do o f u racão os h avia arrast ado! Mas essa t erra, qu er f osse
h abi t ada ou n ão, qu er f osse h ospi t alei ra ou n ão, era preci so alcan çá-la!
Ora, às qu at ro h oras, era vi sível qu e o balão n ão poderia ag u en t ar-se m ai s t em po. Rasava
à su perf ície do m ar . Já a cri st a de en orm es vag as t in h a por vez es m olh ado a part e in f erior da
rede, t orn an do-a ain da m ai s pesada, e o aeróst at o apen as se soerg u ia com o u m pássaro com
ch u m bo n u m a asa.
Meia h ora m ai s t arde a t erra en con t rava-se apen as a m eia m i lh a, m as o balão, esg ot ado,
m ole, am arrot ado, f orm an do g ran des preg as, só t in h a g ás n a su a part e su perior . Os passag ei ros
presos à rede ain da pesavam de m ai s para ele, e em breve, sem im erg u lh ados n o m ar , eram
açoi t ados pelas vag as f u riosas. O in vólu cro do balão dobrou -se en t ão e o ven t o, bat en do n ele,
em pu rrou -o com o a u m n avio. T alvez ch eg asse assim à cost a!
En con t rava-se a pou ca di st ân cia de t erra qu an do qu at ro g ri t os t errívei s, saídos de qu at ro
pei t os ao m esm o t em po, se ou vi ram . O aparelh o, qu e parecia n ão vol t ar a erg u er-se, acabava
de dar u m sal t o in esperado, depoi s de t er sido at in g ido por u m a vag a en orm e. Com o se t ivesse
su bi t am en t e perdido u m a part e do seu peso, o balão su biu a u m a al t u ra de m i l e qu in h en t os
pés, e al i en con t rou u m a espécie de rem oin h o de ven t o qu e, em vez de o levar di ret am en t e
para a cost a o f ez seg u i r n u m a di reção paralela. Por f im , doi s m in u t os m ai s t arde, aprox im ou se obl iqu am en t e e caiu n a areia da praia, f ican do f ora do alcan ce das vag as.
Os passag ei ros, aju dan do-se u n s aos ou t ros, con seg u i ram sol t ar-se das m alh as da rede. O
balão, sem o peso deles, f oi apan h ado pelo ven t o e, com o u m pássaro f erido qu e reen con t ra
u m m om en t o de vida, desapareceu n o espaço.
A barqu in h a t ran sport ara cin co passag ei ros e u m cão e o balão só at i rara para a m arg em
qu at ro.
O passag ei ro qu e f al t ava h avia eviden t em en t e sido levado pelo m ar e f ora i sso qu e
perm i t i ra ao balão su bi r u m a úl t im a vez e depoi s, alg u n s in st an t es m ai s t arde, at in g i r t erra.
Mal os qu at ro n áu f rag os — podem os dar-lh es esse n om e — t in h am pi sado o solo, t odos,
pen san do n o au sen t e, g ri t aram :
— Ele t en t a t alvez ch eg ar aqu i a n ado! Salvem o-lo! Salvem o-lo!
Capítul o 2
Não eram n em aeron au t as de prof i ssão n em am adores de ex pedições aéreas os qu e o
f u racão acabava de lan çar para a cost a. Eram pri sion ei ros de g u erra, qu e a au dácia t in h a
levado a f u g i r em ci rcu n st ân cias ex t raordin árias. Cem vez es eles t eriam podido perecer! Cem
vez es o balão rasg ado poderia t ê-los lan çado n o abi sm o! Mas o céu reservava-os para u m
est ran h o dest in o, e, a 24 de m arço, depoi s de t erem f u g ido de Rich m on d, si t iada pelas t ropas
do g en eral Gran t , en con t ravam -se a set e m i l m i lh as da capi t al do est ado da V i rg ín ia, prin cipal
praça-f ort e dos separat i st as du ran t e a t errível Gu erra da Secessão. A n aveg ação aérea du rara
cin co dias.
V ejam os em qu e cu riosas ci rcu n st ân cias se deu a evasão dos pri sion ei ros — evasão qu e
con du z i ria ao desen lace qu e já con h ecem os.
Nesse m esm o an o, n o m ês de f everei ro de 1865, n u m desses at aqu es qu e o g en eral Gran t
t en t ou , m as in u t i lm en t e, para se apoderar de Rich m on d, vários dos seu s of iciai s caí ram n as
m ãos dos in im ig os e f oram in t ern ados n a cidade. U m dos m ai s di st in t os of iciai s a qu em i sso
acon t eceu pert en cia ao est ado-m aior f ederal e ch am ava-se Cy ru s Sm i t h .
Cy ru s Sm i t h , orig in ário de Massach u set t s, era en g en h ei ro, u m sábio de g ran de cat eg oria,
ao qu al o Govern o da U n ião h avia con f iado, du ran t e a g u erra, a di reção dos cam in h os de
f erro, cu jo papel est rat ég ico f oi t ão con siderável . V erdadei ro am erican o do Nort e, m ag ro,
ossu do, esg u io, t in h a cerca de qu aren t a e cin co an os de idade e os cabelos cort ados cu rt os,
assim com o o big ode, com eçavam já a t orn ar-se g ri salh os. Possu ía u m a dessas belas cabeças
n u m i sm át icas qu e parecem f ei t as para serem cu n h adas em m edalh as, os olh os bri lh an t es, a
boca séria, a f i sion om ia de u m sábio da escola m i l i t an t e. Além di sso, n ão t in h a apen as o
espí ri t o en g en h oso, m as t am bém a h abi l idade m an u al . Era u m desses en g en h ei ros qu e
com eçara por m an ejar o m art elo e a picaret a, com o esses g en erai s qu e g ost am de com eçar por
sim ples soldados. Os seu s m úscu los eram sól idos. V erdadei ro h om em de ação ao m esm o
t em po qu e h om em de pen sam en t o, ag ia, sem esf orço, sob a in f lu ên cia de u m a larg a ex pan são
vi t al , t en do essa persi st ên cia vivaz qu e desaf ia t oda a pou ca sort e. Mu i t o in st ru ído, m u i t o
prát ico, «m u i t o desem baraçado», para u t i l iz ar u m a ex pressão da l in g u ag em m i l i t ar , era u m
t em peram en t o soberbo, poi s, perm an ecen do sen h or de si qu ai squ er qu e f ossem as
ci rcu n st ân cias, m an t in h a n o m ai s al t o g rau as t rês con dições cu jo con ju n t o det erm in a a en erg ia
h u m an a: at ividade de espí ri t o e de corpo, im pet u osidade dos desejos, f orça de von t ade. A su a
divi sa poderia t er sido a de Gu i lh erm e de Oran g e, n o sécu lo XV I I : «Não t en h o n ecessidade de
esperar para em preen der , n em de t er êx i t o para perseverar .»
Ao m esm o t em po, Cy ru s Sm i t h era a corag em person i f icada. Est ivera em t odas as bat alh as
du ran t e essa Gu erra da Secessão. Depoi s de t er com eçado com U l i sses Gran t n os volu n t ários
de I l in ói s, t in h a-se bat ido em Padu cah , em Belm on t , em Pi t t sbu rg -L an din g , n o cerco de
Corin t h , em Port -Gibson , n o rio Neg ro, em Ch at t an og a, em W i ldem ess, n o Pot om ac, por t oda a
part e e valen t em en t e, com o soldado dig n o do g en eral qu e cost u m ava diz er: «Eu n u n ca con t o os
m eu s m ort os! » E, cem vez es, Cy ru s Sm i t h devia en con t rar-se n o n úm ero daqu eles qu e o
t errível Gran t n ão con t ava, m as n esses com bat es, em qu e ele n ão se pou pava, a sort e prot eg eu o sem pre, at é ao m om en t o em qu e f oi f erido e f ei t o pri sion ei ro n o cam po de bat alh a de
Rich m on d.
Ao m esm o t em po qu e Cy ru s Sm i t h , e n o m esm o dia, u m a ou t ra person ag em im port an t e caía
em poder dos su l i st as. T rat ava-se do h on rado Gédéon Spi let t , repórt er do New-Y ork Herald,
qu e f ora en carreg ado de seg u i r as peripécias da g u erra n o m eio dos ex érci t os do Nort e.
Gédéon Spi let t era da classe desses espan t osos cron i st as in g leses ou am erican os, dos
St an ley e ou t ros, qu e n ão recu am dian t e de n ada para obt er u m a in f orm ação ex at a e para a
en viarem ao seu jorn al n o m ai s breve praz o possível . Os jorn ai s da U n ião com o o New-Y ork
Herald são verdadei ras pot ên cias e os seu s deleg ados são represen t an t es com qu em se con t a.
Gédéon Spi let t colocava-se n a prim ei ra f i la desses deleg ados.
Hom em de g ran de m éri t o, en érg ico, pron t o e preparado para t u do, ch eio de ideias, t in h a
corrido t odo o Mu n do. Soldado e art i st a, arden t e n os con selh os, resolu t o n a ação, n ão o
det in h am n em t rabalh os n em f adig as n em perig os qu an do se t rat ava de t u do saber , prim ei ro
para ele e em seg u ida para o seu jorn al ; verdadei ro h erói da cu riosidade, da in f orm ação, do
in édi t o, do descon h ecido, do im possível , era u m desses in t répidos observadores qu e
escrevem debaix o de f og o, «f az em as crón icas» em plen o com bat e e para os qu ai s t odos os
perig os são bem acolh idos.
T am bém ele h avia est ado em t odas as bat alh as n a prim ei ra f i la, de revólver n u m a m ão,
can h en h o n a ou t ra, e a m et ralh a n ão lh e f iz era t rem er o lápi s. Não f at ig ava os f ios t eleg ráf icos
com t eleg ram as in cessan t es, com o aqu eles qu e f alam qu an do n ada t êm a diz er , m as cada u m a
das su as n ot as, cu rt as, n í t idas, claras, esclarecia u m pon t o im port an t e. De rest o, o h u m or n ão
lh e f al t ava. Foi ele qu em , depoi s do caso do rio Neg ro, qu eren do a t odo o cu st o con servar o
seu lu g ar ao g u ich é do t elég raf o, para an u n ciar ao seu jorn al o desf ech o da bat alh a, t eleg raf ou
du ran t e du as h oras os prim ei ros capí t u los da Bíbl ia. I sso cu st ou doi s m i l dólares ao New-Y ork
Herald, m as o seu jorn al f oi o prim ei ro a ser in f orm ado.
Gédéon Spi let t era de al t a est at u ra. T in h a qu an do m u i t o qu aren t a an os. Cabelos lou rosarru ivados em oldu ravam -lh e o rost o. O seu olh ar era calm o, vivo e dot ado de u m a g ran de
m obi l idade. Era o olh ar de u m h om em h abi t u ado a aperceber-se rapidam en t e de t odos os
porm en ores do h oriz on t e. Sol idam en t e con st i t u ído, t in h a-se t em perado em t odos os cl im as,
com o u m a barra de aço n a ág u a f ria.
Há dez an os qu e Gédéon Spi let t era repórt er t i t u lar do New-Y ork Herald, qu e ele
en riqu ecia com as su as crón icas e com os seu s desen h os, poi s m an ejava t ão bem o lápi s com o
a can et a. Qu an do f oi apri sion ado f az ia a descrição e o esboço da bat alh a. As úl t im as palavras
escri t as n o seu bloco f oram est as: «U m su l i st a apon t a para m im e...» E Gédéon Spi let t n ão f oi
at in g ido, poi s, seg u n do o seu in variável cost u m e, saiu do caso sem u m arran h ão.
Cy ru s Sm i t h e Gédéon Spi let t , qu e n ão se con h eciam , a n ão ser de repu t ação, t in h am sido
am bos t ran sport ados para Rich m on d. O en g en h ei ro cu rou -se rapidam en t e do seu f erim en t o e
f oi du ran t e a su a con valescen ça qu e t ravou con h ecim en t o com o repórt er . Os doi s h om en s
g ost aram u m do ou t ro e apren deram a apreciar-se. Em breve a su a vida com u m passou a t er
apen as u m objet ivo: f u g i r , ju n t arem -se ao ex érci t o de Gran t e vol t arem a com bat er n as su as
f i lei ras pela u n idade f ederal .
Os doi s am erican os est avam port an t o decididos a aprovei t ar qu alqu er ocasião, m as apesar
de an darem à von t ade n a cidade, Rich m on d est ava t ão severam en t e g u ardada qu e u m a evasão
devia ser con siderada im possível .
En t ret an t o, Cy ru s Sm i t h t eve a su rpresa de ver ch eg ar u m seu criado qu e lh e era dedicado
at é à m ort e. Esse valen t e h om em era u m n eg ro n ascido n as propriedades do en g en h ei ro, f i lh o
de escravos, m as qu e, desde h á m u i t o t em po, Cy ru s Sm i t h , abol icion i st a pela raz ão e pelo
coração, h avia l ibert ado. O escravo, t orn ado l ivre, n ão qu i sera deix ar o seu sen h or . Era capaz
de dar a vida por ele. Era u m h om em de t rin t a an os, ág i l , vig oroso, h ábi l , in t el ig en t e, m eig o e
calm o, por vez es in g én u o, sem pre sorriden t e, serviçal e bom . Ch am ava-se Nabu codon osor ,
m as só dava pelo n om e f am i l iar e abreviado de Nab.
Qu an do sou be qu e o seu am o h avia sido f ei t o pri sion ei ro, deix ou Massach u set t s sem
h esi t ar , ch eg ou dian t e de Rich m on d, e, à f orça de ast úcia e de h abi l idade, depoi s de t er
arri scado vin t e vez es a vida, con seg u iu en t rar n a cidade si t iada. O praz er de Cy ru s Sm i t h ao
ver o seu f iel criado e a aleg ria de Nab em en con t rar o seu am o n ão se podem descrever .
No en t an t o, se Nab h avia con seg u ido pen et rar em Rich m on d era m u i t o m ai s di f íci l sai r de
lá, poi s os pri sion ei ros f ederai s eram vig iados de m u i t o pert o. Era preci so u m a ocasião
ex t raordin ária para poder t en t ar u m a evasão com alg u m a possibi l idade de êx i t o, e essa
ocasião n ão só n ão se apresen t ava com o era prat icam en t e im possível f az ê-la n ascer .
En t ret an t o, Gran t con t in u ava as su as en érg icas operações. A vi t ória de Pet ersbu rg o t in h alh e sido du ram en t e di spu t ada. As su as f orças, reu n idas às de Bu t ler , n ão h aviam obt ido ain da
qu alqu er resu l t ado dian t e de Rich m on d, e n ada f az ia prever qu e a l ibert ação dos pri sion ei ros
est ivesse próx im a. O repórt er , ao qu al o f ast idioso cat ivei ro n ão f orn ecia u m ún ico porm en or
in t eressan t e a an ot ar , já n ão ag u en t ava m ai s. T in h a apen as u m a ideia: sai r de Rich m on d a t odo
o cu st o. T en t ou m esm o várias vez es a aven t u ra e f oi det ido por obst ácu los in t ran spon ívei s.
O cerco con t in u ava e se os pri sion ei ros t in h am pressa de f u g i r para se ju n t arem ao
ex érci t o de Gran t , alg u n s si t iados n ão t in h am m en os pressa em f u g i r para se ju n t arem aos
ex érci t os separat i st as e, en t re eles, u m cert o Jon at h an Forst er , su l i st a f erren h o.
Com ef ei t o, se os pri sion ei ros f ederai s n ão podiam deix ar a cidade, os con f ederados
t am bém n ão podiam f az ê-lo, poi s o ex érci t o do Nort e at acava-os. O g overn ador de Rich m on d
já n ão con seg u ia com u n icar h á t em pos com o g en eral L ee, n ão obst an t e t er o m aior in t eresse
em lh e dar a con h ecer a si t u ação da cidade, a f im de apressar a m arch a do ex érci t o de
socorro. Esse Jon at h an Forst er t eve en t ão a ideia de se servi r de u m balão para at ravessar as
l in h as in im ig as e ch eg ar assim ao cam po dos separat i st as.
O g overn ador au t oriz ou a t en t at iva. Foi con st ru ído u m aeróst at o e post o à di sposição de
Jon at h an Forst er , qu e cin co dos seu s com pan h ei ros deviam acom pan h ar . Est avam m u n idos de
arm as para o caso de t erem de se def en der du ran t e a at errag em , e de víveres, para a
even t u al idade de a su a viag em aérea se prolon g ar .
A part ida do balão est ava f ix ada para o dia 18 de m arço. Devia ef et u ar-se du ran t e a n oi t e
e, com u m ven t o do n oroest e de f orça m edian a, os aeron au t as con t avam ch eg ar den t ro de
pou cas h oras ao qu art el -g en eral de L ee.
T odavia, esse ven t o do n oroest e n ão f oi u m a sim ples bri sa. A part i r do dia 18 pôde ver-se
qu e se t ran sf orm ava em f u racão. Em breve a t em pest ade se t orn ou t ão f ort e qu e a part ida de
Forst er t eve de ser adiada, poi s seria lou cu ra arri scar o aeróst at o e aqu eles qu e ele levava n o
m eio dos elem en t os desen cadeados.
O balão, pron t o para part i r à prim ei ra acalm ia do ven t o, en con t rava-se n a g ran de praça de
Rich m on d, e a im paciên cia por o verem part i r au m en t ava qu an do observavam qu e o est ado do
t em po n ão se m odi f icava.
Os dias 18 e 19 de m arço passaram -se sem qu e qu alqu er m u dan ça se produ z i sse. T in h am
m esm o g ran de di f icu ldade em con servar o balão preso ao solo, qu e as rajadas de ven t o
dei t avam por t erra.
A n oi t e do dia 19 para 20 passou -se, m as, de m an h ã, o f u racão au m en t ou de
im pet u osidade. A part ida era im possível .
Nesse dia, o en g en h ei ro Cy ru s Sm i t h f oi abordado n u m a das ru as de Rich m on d por u m
h om em qu e ele n ão con h ecia. Era u m m arin h ei ro ch am ado Pen crof f , u m h om em en t re os t rin t a
e cin co e os qu aren t a an os, de con st i t u ição vig orosa, m u i t o bron z eado, com u n s olh os vivos e
qu e pi scavam in cessan t em en t e, m as com u m a boa ex pressão. Esse Pen crof f era u m am erican o
do Nort e, qu e percorrera t odos os m ares do Globo, e ao qu al , n o qu e diz respei t o a aven t u ras,
t in h a acon t ecido t u do o qu e de m ai s ex t raordin ário podia su ceder a u m ser com doi s pés e sem
pen as. I n út i l será diz er qu e se t rat ava de u m a n at u rez a em preen dedora, pron t o para t u do e qu e
n ada podia espan t ar . Pen crof f , n o com eço desse an o, t in h a-se di rig ido a Rich m on d, em
n eg ócios, acom pan h ado por u m jovem de qu in z e an os, Harbert Brown , de Nova Jérsia, f i lh o
do seu com an dan t e, u m órf ão de qu em ele g ost ava com o se f osse seu próprio f i lh o. Não t en do
podido deix ar a cidade an t es de se t er in iciado o cerco, en con t rou -se, com g ran de
con t rariedade su a, al i bloqu eado pelo qu e t am bém ele daí em dian t e t eve só u m a ideia: f u g i r
por t odos os m eios possívei s. Con h ecia a repu t ação do en g en h ei ro Cy ru s Sm i t h . Sabia com
qu e im paciên cia aqu ele h om em det erm in ado roía o seu f reio. Nesse dia, n ão h esi t ou m ai s em
abordá-lo e di sse-lh e sem qu alqu er preparação:
— Sen h or Sm i t h , n ão est á f art o de Rich m on d?
O en g en h ei ro olh ou f ix am en t e para o h om em qu e lh e f alara assim e qu e acrescen t ou em
voz baix a:
— Sen h or Sm i t h , qu er f u g i r?
— Qu an do e com o? — ret orqu iu vivam en t e o en g en h ei ro, e pode diz er-se qu e essa
respost a lh e escapou , poi s ain da n ão observara o descon h ecido qu e lh e di rig i ra a palavra.
Con t u do, depoi s de t er at en t ado, com o seu olh ar pen et ran t e, n o rost o leal do m arin h ei ro,
n ão pôde du vidar qu e t in h a n a su a f ren t e u m h om em h on est o.
— Qu em é o sen h or? — perg u n t ou com voz breve.
Pen crof f deu -se a con h ecer .
— Bem — respon deu Cy ru s Sm i t h . — E com o pen sa levar a cabo a f u g a qu e m e propõe?
— Nesse in dolen t e balão qu e deix am al i sem n ada f az er e qu e m e dá a ideia de est ar
proposi t adam en t e à n ossa espera! ...
O m arin h ei ro n ão h avia t ido n ecessidade de acabar a f rase. O en g en h ei ro com preen dera
im ediat am en t e. Peg ou n o braço de Pen crof f e arrast ou -o para su a casa.
Al i , o m arin h ei ro desen volveu o seu projet o, n a verdade m u i t o sim ples. Para o ex ecu t ar
apen as arri scavam a vida. O f u racão est ava n o au g e da su a violên cia, é cert o, m as u m
en g en h ei ro h ábi l e au dacioso com o Cy ru s Sm i t h saberia con du z i r u m aeróst at o. Se ele próprio
sou besse m an obrá-lo, n ão t eria h esi t ado em part i r — com Harbert , é claro. Já passara por
m u i t as si t u ações perig osas, e n ão era aqu ela qu e o i ria det er!
Cy ru s Sm i t h n ão diz ia u m a palavra en qu an t o ou via o m arin h ei ro, m as os seu s olh os
bri lh avam . A ocasião su rg i ra e ele n ão era h om em para a deix ar escapar . O projet o era apen as
m u i t o perig oso e port an t o podia ser post o em ex ecu ção. De n oi t e, apesar da vig i lân cia,
podiam ch eg ar ju n t o do balão, desl iz ar para den t ro da su a barqu in h a e em seg u ida cort ar as
cordas qu e o pren diam ! Cert am en t e qu e se arri scavam a ser m ort os, m as, por ou t ro lado,
podiam t er êx i t o n a f u g a n o m eio dessa t em pest ade... De rest o, sem a t em pest ade o balão já
t eria part ido e a ocasião t ão procu rada n ão se apresen t aria n esse m om en t o!
— Não est ou soz in h o! — di sse por f im Cy ru s Sm i t h .
— Qu an t as pessoas qu er levar? — perg u n t ou o m arin h ei ro.
— Du as: o m eu am ig o Spi let t e o m eu criado Nab.
— En t ão são t rês — respon deu Pen crof f —, e com Harbert e eu som os cin co. Ora, o balão
devia levar sei s...
— Ch eg a. Nós part i rem os en t ão! — di sse Cy ru s Sm i t h .
Aqu ele «n ós» in clu ía o repórt er , m as o en g en h ei ro sabia bem qu e ele n ão era h om em para
recu ar e qu an do o projet o lh e f oi apresen t ado, Spi let t aprovou -o sem reservas. Adm i rou -se f oi
de u m a ideia t ão sim ples lh e n ão t er su rg ido. Qu an t o a Nab, est ava sem pre pron t o a seg u i r o
pat rão para on de qu er qu e f osse.
— En t ão at é log o à n oi t e — di sse Pen crof f . — An darem os a vag u ear por aí , com o
cu riosos!
— At é log o à n oi t e, às dez h oras — respon deu Cy ru s Sm i t h . — E perm i t a o céu qu e a
t em pest ade n ão am ain e an t es da n ossa part ida!
Pen crof f despediu -se do en g en h ei ro e vol t ou ao seu alojam en t o, on de t in h a f icado o jovem
Harbert Brown . Esse corajoso rapaz con h ecia o plan o do m arin h ei ro e esperava an siosam en t e
o resu l t ado da su a en t revi st a com o en g en h ei ro. Com o se vê, eram cin co h om en s decididos qu e
iam assim lan çar-se n a t orm en t a, em plen o f u racão!
Não! O f u racão n ão se acalm ou , e n em Jon at h an Forst er n em os seu s com pan h ei ros podiam
pen sar em en f ren t á-lo n aqu ela f rág i l barqu in h a! O dia f oi t errível . O en g en h ei ro só receava
u m a coi sa. Era qu e o aeróst at o, preso ao solo e lan çado por t erra pelo ven t o, se rasg asse em
m i l pedaços. Du ran t e várias h oras, vag u eou pela praça qu ase desert a vig ian do o aparelh o.
Pen crof f f az ia o m esm o por seu lado, com as m ãos n os bol sos, e bocejan do de vez em qu an do
com o u m h om em qu e n ão sou besse com o passar o t em po, m as recean do t am bém qu e o balão se
rasg asse ou qu e as cordas se part i ssem e ele desaparecesse n o espaço.
A n oi t e ch eg ou . Est ava m u i t o escu ra. Espessas bru m as passavam ren t e ao solo, com o
n u ven s. Caía u m a ch u va m i st u rada com n eve. O t em po est ava f rio. U m a espécie de n evoei ro
pai rava sobre Rich m on d. Parecia qu e a violen t a t em pest ade im pu n h a t rég u as en t re os si t ian t es
e os si t iados, e qu e o can h ão qu i sera calar-se dian t e das f orm idávei s det on ações do f u racão.
As ru as da cidade est avam desert as. Nem sequ er ach avam n ecessário, com aqu ele t em po
h orrível , g u ardar a praça n o m eio da qu al se debat ia o balão. T u do f avorecia a part ida dos
pri sion ei ros, eviden t em en t e; m as essa viag em , n o m eio das rajadas desen f readas! ...
«Má m aré! », pen sava Pen crof f , ag arran do o ch apéu , qu e o ven t o lh e qu eria arran car da
cabeça. «Mas h avem os de con seg u i r o qu e qu erem os! »
Às n ove h oras e m eia, Cy ru s Sm i t h e os seu s com pan h ei ros desl iz avam por vários lados,
pela praça, qu e os can deei ros de g ás, apag ados pelo ven t o, deix avam n u m a prof u n da
obscu ridade. Não se via sequ er o en orm e aeróst at o, qu ase in t ei ram en t e ach at ado con t ra o solo.
I n depen den t em en t e dos sacos de last ro qu e m an t in h am as cordas da rede, a barqu in h a est ava
presa por u m f ort e cabo qu e passava por u m a arg ola, cravada n o solo.
Os cin co pri sion ei ros en con t raram -se pert o da barqu in h a. Não t in h am sido vi st os; al iás, a
obscu ridade era t al qu e n ão se viam u n s aos ou t ros.
Sem pron u n ciar u m a palavra, Cy ru s Sm i t h , Gédéon Spi let t , Nab e Harbert t om aram lu g ar
n a barqu in h a, en qu an t o Pen crof f , por ordem do en g en h ei ro, t i rava su cessivam en t e os sacos de
last ro. Foi obra de pou cos m in u t os e log o a seg u i r o m arin h ei ro f oi ju n t ar-se aos seu s
com pan h ei ros.
O aeróst at o só est ava en t ão preso pelo du plo cabo e Cy ru s Sm i t h t in h a apen as de dar
ordem de part ida.
Nesse m om en t o, u m cão sal t ou para den t ro da barqu in h a. Era o cão do en g en h ei ro, qu e,
t en do part ido a su a corren t e, f ora at rás do don o. Cy ru s Sm i t h , recean do u m ex cesso de peso,
qu eria m an dar em bora o an im al .
— Bah ! Mai s u m ! — di sse Pen crof f , al ivian do m ai s doi s sacos de last ro.
Em seg u ida, sol t ou o du plo cabo e o balão part iu n u m a di reção obl íqu a e desapareceu ,
depoi s de a barqu in h a t er bat ido em du as ch am in és, qu e at i rou abaix o n a f úria da part ida.
O f u racão at in g i ra en t ão u m a violên cia assu st adora. Du ran t e a n oi t e o en g en h ei ro n ão pôde
pen sar em descer , e qu an do ch eg ou o dia a vi st a da t erra era in t ercet ada pelas bru m as. Só
cin co dias depoi s, u m a abert a lh es deix ou ver o m ar im en so por baix o do aeróst at o, qu e o
ven t o arrast ava com u m a velocidade t em ível !
Sabem os com o, desses cin co h om en s, part idos a 20 de m arço, qu at ro t in h am sido
lan çados, n o dia 24 de m arço, para u m a cost a desert a, a m ai s de sei s m i lh as do seu paí s!
3
E o qu e f al t ava, aqu ele em socorro do qu al os qu at ro sobreviven t es do balão corriam , era
o seu ch ef e n at u ral , era o en g en h ei ro Cy ru s Sm i t h !
Lendo e Relendo meus Própios Livros.
segunda-feira, 2 de maio de 2016
COMEÇANDO A ESCREVER
VOU COMEÇAR A ESCREVER MINHAS HISTORIAS TAMBÉM. MINHAS HISTORIAS PODEM CHEGAR A 100 PAGINAS NÃO SÃO TÃO GRANDES A MAIORIA 30 OU 50 PAGINAS.
OS QUE IREI ESCREVER SERÃO PEQUENOS COMO 10 20 NO MAXIMO 35 POR AI.
A MAIORIA DOS LIVROS E HISTORIA OU SERIES PEQUENAS...
TODOS PODERÃO COMENTAR SUAS HISTORIAS.
OBS: TAMBÉM POSTAREI LIVROS JÁ CONHECIDOS
VOU COMEÇAR A ESCREVER MINHAS HISTORIAS TAMBÉM. MINHAS HISTORIAS PODEM CHEGAR A 100 PAGINAS NÃO SÃO TÃO GRANDES A MAIORIA 30 OU 50 PAGINAS.
OS QUE IREI ESCREVER SERÃO PEQUENOS COMO 10 20 NO MAXIMO 35 POR AI.
A MAIORIA DOS LIVROS E HISTORIA OU SERIES PEQUENAS...
TODOS PODERÃO COMENTAR SUAS HISTORIAS.
OBS: TAMBÉM POSTAREI LIVROS JÁ CONHECIDOS
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